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Paganismo e politeísmo - A dificuldade em se afastar do cristianismo

Imagem: A chegada do cristianismo na Europa.

Uma das maiores dificuldades que existem no processo de estudo, conhecimento e prática da bruxaria, e por vezes até somente do próprio paganismo, é "desapagar-se" ou afastar-se da cultura cristã na qual nascemos, crescemos e somos bombardeados com dogmas e ideologias fundamentalistas de uma sociedade movimentada pelo próprio desde que o monoteísmo instalou-se no mundo. O choque de cultura, de hábitos e crenças são comuns e necessárias para que essa transição possa ser feita, mas não é tão fácil quanto parece.

Para simplificar melhor o que eu quero trazer com esse texto, vou tentar usar o meu caminho solitário dentro da bruxaria e neo-paganismo para explicar um pouco de como funciona esse processo de afastamento. Considerava-se que pagão eram os "não batizados", já que o mundo provém de um contexto politeísta e formou-se monoteísta com o passar dos séculos. Esse choque de culturas foi um problema muito grande na época e historicamente falando ainda é lembrado por muitos com pesar, afinal de contas, assassinato e tortura em massa de pessoas que nascem livres não é bem o que podemos chamar por "resolução". O cristianismo acreditava que a cultura de povos diferentes era errada e esses povos consideravam o cristianismo errôneo, aparentemente parece bárbaro e pré-histórico essa ideia de não aceitação da diferenças, mas essa rixa de séculos atrás ainda existe hoje, dessa forma, podemos entender o quão vazios somos e o pouco que nós realmente evoluímos com o passar do tempo, muito embora gostamos de nos exaltar tecnológicos e evoluídos, quando na verdade mal saímos das fraldas.

Para um "entendimento" conjunto, era necessária a instalação permanente de uma só ideia e a maneira de se instalar isso não poderia ser a mais harmoniosa, obviamente. A Santa Inquisição nada mais foi do que uma espécie de ditadura medievalista, onde quem se opunha a ideia contrária era detido, torturado e se tivesse sorte era condenado à morte, afinal de contas, ninguém merece ser julgado centenas de vezes, torturado de diversas formas para confessar algo que muitas vezes não passava de falatório dos pequenos e pobres vilarejos. É como costumo dizer: "O medo é o grande provocador de histórias".

Não só como uma forma de ordem e controle, mas também como um grande resumão de todo o contexto de religiões arcaicas, o cristianismo se instala e mancha seu nome com sangue. Só não podemos esquecer que embora radical, isso não foi "tão bem aceito" como é retratado historicamente, afinal, não é qualquer um que se sujeita a mudar todos os seus hábitos porque alguns acreditam que essa mudança é realmente necessária. A conversão foi um grande problema por muito tempo, mas foi obtida, na guerra não morre três de uma bandeira, sem morrer quatro de outra. O politeísmo e paganismo são bastante arcaicos e acompanham o homem desde que ele se entende por homem, com o passar dos séculos perdeu a sua força e foram considerados apenas mitologias e crendices vagas de povos antigos e/ou ancestrais, que tendiam a transformar todos os acontecimentos à sua volta em Deuses poderosos e a imagem e semelhança do ser humano, trazendo todas as suas compreensões, seus anseios, costumes e outros, não somente como uma forma de tentar se espelhar, mas também para trazer o divino para mais perto da humanidade.

É muito difícil, devido a uma serie de fatores sociais retirar-se dessa cultura com dogmas cristãos e seus fundamentalismos, por vezes demasiadamente extremos. Primeiramente porque há essa dificuldade em obter conhecimento a respeito do paganismo e das formas de culto à outros Deuses, pela diferença de ideias e hábitos, já que o cristianismos e o paganismo não se assemelham em nada.

Foi muito difícil, embora eu não seguisse, pertencesse ou estivesse a par de religiões monoteístas a influência social não me oferecia alternativas viáveis para o livre pensamento ou até mesmo a descoberta. Algumas pessoas tendem a temer o paganismo e bruxaria pela forma distorcida como ele foi e é tratado, não é fácil ter acesso a informações reais e verídicas do culto a outros Deuses e outras formas de se entender o mundo e a própria espiritualidade se não a partir do cristianismo e demais vertentes monoteístas pelo poder que ela possui. No começo dos meus estudos e práticas fui perdendo o medo que colocam em nossa cabeça, fui exercitando a ideia de ter outras representações de Deus ou Deusa, e dessa forma me treinando à recebê-los e ter contato com Eles. A melhor forma é você entender quem é Aquele Deus/Deusa, o que ele representa, quais as características que Ele/Ela possui e ai ao "encontrá-lo" você obtêm a confirmação, se faz jus ao que você imaginou ou não.

Não é tão fácil quando aparenta, o contato não se baseia somente em "afinidades", tudo é feito através de trocas, não porque você gosta de uma determinada lista de Deuses e suas respectivas características que ele vai te trazer experiências. Muitos se enganam ao pensar no "basta acreditar", a bruxaria é uma prática difícil, trabalhosa e cheia de idas e vindas, o conhecimento do oculto não é entregue à qualquer um, o conhecimento deve ser buscado e conquistado diariamente em seus mínimos sacrifícios, desde seu empenho, do seu exercitar até uma meditação, um ritual, um contato maior com determinada divindade. Não basta ter um Deus de culto "para sempre", quando se está parado não se adquire progressos, é preciso conhecer todos Eles, trabalhar as energias e buscar experiências diferentes com cada um deles, nós somos politeístas. Cada Deus ou Deusa é um único elemento, únicos como cada um de nós, ninguém é igual a ninguém porque cada um tem sua particularidade.

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