Curiosidades
O altar menstrual – Sagrado Feminino
O altar menstrual é algo discutido e discutível no meio das práticas da wicca e bruxaria por dois motivos: O primeiro motivo é o fato de a mulher hoje não dar importância ao seu ciclo natural e a menstruação ser um pesadelo, um fardo a ser carregado e um período desprezível. Segundo "problema" é a ideia do nojo ou repulsa que a mídia como um todo traz em relação à isso, desde a propaganda de uma mulher satisfeita com um remédio que diminui as cólicas menstruais, o absorvente que a deixa "protegida" e livre para andar de forma elegante ou seja lá o quê ou o sabonete líquido íntimo que evita possíveis odores "naturais", tudo isso é algo que controla a ideia de que a menstruação é um problema, os pelos são um problema, a mulher em si é um problema, mensagens enviadas conscientes para serem recebidas em geral de maneira inconsciente e roboticamente a mulher se vê não somente obrigada mas acomodada a ideia de ter que se privar da sua naturalidade para estar num padrão social aceitável. Isso é um problema? É um problema grave.
A ideia de estar limpa, estar aceitável é cômoda porque passa a ser natural, portanto não é algo que incomode-a depilar-se sempre, pentear-se sempre, ter unhas bem feitas e cabelo sempre bem arrumado, passou a ser a sua natureza agora. O problema vem quando a mulher não se aceita como mulher ou não aceita a ideia de que seu corpo é sagrado. O sagrado que eu digo não vem no sentido de se manter preservada, ou no sentido de pureza e dedicação a outro que o cristianismo pregou durante séculos e séculos, mas o sagrado de ter importância não somente representativa mas de ter a sua própria vida alojada dentro de uma carne frágil. É necessário todos os devidos cuidados estéticos? Acredito que depende muito, depende de qual mulher estamos falando, a mulher aqui da cidade grande acredita precisar, a mulher do norte talvez e se formos mais longe, mudando o tempo atual para o passado, nossas antepassadas (primitivas) precisavam se depilar? Não. Não era uma necessidade naquele determinado período. A grande questão é: Até que ponto a mulher se idolatra, se coloca em primeiro, se dá ao luxo de ser ou saber e honra seus ciclos, vivências e experiências? Isso é importante? Dentro do paganismo como num todo é tão importante porque honrar é viver. Dentro do paganismo é honrado e celebrado três períodos que são representações do ciclo da vida de uma mulher:
A menarca – É a primeira menstruação da mulher, ocorre entre seus 9 a no máximo 19, que é o momento em que a menina deixa de ser menina e torna-se mulher, é simbólico e é o aviso da sua natureza que diz a mesma que o seu corpo a partir desse momento pode tornar-se abrigo de um outro ser humano. A menarca é comparada a primeira passagem do ciclo, o começo desse ciclo, onde a mulher é a donzela e futuramente portará o Deus chamado de a criança da promessa para os pagãos.
A gravidez – a gravidez é sempre opcional e em toda e qualquer circunstância é defendida a opinião da mulher em relação à isso, ela não deixa de ser mulher e não deixa de ter seus ciclos por não engravidar, por não querer ou não puder. Cada ciclo tem sua beleza e é honrado da mesma forma. A gravidez é o processo de abrigo, onde a mulher carrega em seu ventre uma criança e devido a isso o seu ciclo torna-se diferente, seu corpo sofre alterações diversas e não somente ele mas seu humor, sua conduta como mãe torna-se então algo a ser reforçado, para que essa mulher venha a proteger, criar e educar essa criança.
A menopausa – Esse é o final do ciclo da mulher, é quando o corpo para de produzir hormônios e traz portanto alterações diversas não somente no corpo da mulher mas também a seus hábitos, ela deixa de ser a donzela e passa a ser a anciã. Na visão pagã esta mulher foi portadora de vida quando deu a luz (reprodução) e agora seu corpo descansa, tendo se tornado sábia por suas vivências e sua experiência nos mais diversos aspectos essa mulher está pronta para partir em breve.
A grande discussão sobre o altar menstrual vem pela repulsa trazida do senso comum dentro da sociedade em que vivemos de que é nojento abrigar um altar para tal fim, porém é defendida a ideia de que isso é tão importante quanto honrar a natureza em seus diversos sentidos. O altar menstrual tem o contexto de trazer a celebração dos ciclos da mulher que é representada pela Deusa (aspecto feminino de uma divindade) em que tem seus ciclos naturais como nascimento, vida e morte como qualquer outro ser. O ciclo menstrual está ligado ao Esbath que é a celebração das fases lunares (que representa a Deusa - feminino), é comum portanto que mulheres menstruem em lua cheia ou lua crescente porque representa a entrada do ciclo desta, a menstruação ocorre todo mês/uma vez por mês e o período dura em cerca de três a cinco dias de sangramento. Não corresponde a cada fase lunar, afinal, o ciclo da lua é mais extenso.
A ideia de celebrar essa fase sagrada vem de tempos atrás, quando mulheres taxadas como bruxas saiam nuas pelas plantações deixando que seu sangue menstrual fosse derramado naturalmente no solo para que a colheita pudesse ser farta, rica e a plantação pudesse ser abençoada. Por tal comportamento eram taxadas se não como loucas como bruxas, pois a nudez é desde muito tempo trazida como profana, desrespeitosa, diabólica, perversa e fruto da luxúria (um dos sete pecados capitais trazido pelo cristianismo). O cristianismo traz outros fatos que trouxeram a imagem do corpo da mulher como sendo fruto de profanação e diabolização, onde o corpo da mulher era pecaminoso. O mito de Adão e Eva traz a ideologia de que a nudez foi profanada quando Eva descumpriu uma ordem superior (Deus) e provou do fruto proibido quando foi influenciada pela "cobra", cobra essa que foi representada de diversas formas e com diversos nomes, inclusive a de Lilith, que era um demônio feminino que persuadiu Eva e a levou a cometer o pecado. Lilith é a representação da libertação da mulher, da sua liberdade sexual que dentro do contexto cristão é repugnante para a mesma, que no paganismo é citada como uma Deusa com aspectos parecidos aos de demônio, mas não como de mulher pecaminosa e sim como uma mulher enriquecida por uma liberdade e aflorada por seus desejos, o que dentro do paganismo não é pecado (por não acreditar-se no pecado), portanto é a mulher e sua natureza sagrada e que deve ser honrada assim como sua nudez deve ser.
No altar menstrual é colocada a imagem da Deusa, uma Deusa em específico escolhida por um determinado indivíduo ou somente a imagem da Deusa como mulher (que não traz referência a uma Deusa específica, a Vênus, por exemplo). É colocada também a imagem de uma serpente que traz a representação de Lilith e a representação do fogo que é simbolicamente a representação de um elemento, que por sua vez representa o sangue. Em geral são colocadas também conchas que são a representação do sagrado feminino (representam Afrodite). O caldeirão que é a representação do ventre (onde tudo é criado). Velas vermelhas para o período de menstruação ou velas negras para o período de menopausa. São colocadas flores também, elas representam a fertilidade, abundância e colheita, que por sua vez representam o útero preenchido e florescido. Algumas pessoas colocam livros menstruais onde anotam experiências. Mas claro, cada pessoa pode criar seu próprio altar com as suas características.
Deixo para vocês um blog onde encontrei anotações pessoais sobre o altar menstrual para que vocês possam ler e ter suas próprias inspirações: http://guerreirainterior.blogspot.com.br.
Sobre colocar-se o sangue menstrual no jarro/vaso pode ser ser colocado vinho para aquelas que sentem nojo do próprio sangue ou pode ser colocar o sangue, de que forma é retirado para ser depositado? Bom, acredito que cada uma encontra um jeito melhor, portanto, tudo é possível. E o que fazer com esse sangue ou o vinho? Depois do ciclo (3 a 5 dias depois) joga-se o sangue ou o vinho que foi depositado no jarro/vaso menstrual diretamente na terra, isso representa a devolução do nosso sangue a Mãe Sagrada, representa a fertilização e benção ao solo (não deixa de ser adubo). O jarro/vaso é limpo após esse ritual normalmente com água e costuma-se lavar com algumas ervas específicas caso julguem necessário para tirar odores e outros e o ciclo continua.
Uma mensagem que deixo a vocês é que é tão importante celebrar e honrar seus ciclos quanto viver, parece sem importância ou sem qualquer interferência ao cotidiano mas é celebrando que se vê determinadas diferenças. E isso mostra o quão gratas somos a nosso próprio sexo, o quão liberta somos e devemos ser de fato. Não tenham nojo de vocês mesmas, tenham nojo da repulsa pelo corpo.
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