Sobre o Sagrado Feminino não ser só flores
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Sobre o Sagrado Feminino não ser só flores



   Antes de mais nada quero ressaltar que meu intuito com esse texto é sobretudo fazer uma crítica construtiva, além, obviamente, de expor minha interpretação sobre o que é de fato o sagrado feminino, que embora uma massa acredite fielmente que seja honrar uma ideologia monoteísta muito machista e opressora, acreditando que o Sagrado Feminino é baseado em um campo florido ele não o é!
   Vejo muita mulher trabalhar o Sagrado Feminino atualmente e é muito crescente o número de mulheres interessadas em viver e reviver os seus sagrados, conhecendo, coexistindo e honrando por meio não somente das práticas religiosas e espirituais, como também no contexto do dia a dia. Esse crescimento do entendimento da ancestralidade feminina e soberania dos corpos femininos é um conceito totalmente pagão e eu vou explicar o motivo.
   O sagrado feminino nasceu dentro do paganismo. Na antiguidade não havia dogmas implantados e a mulher era evidentemente tão ressaltada espiritualmente quanto o homem, mas não somente na questão espiritual, tanto que em muitas culturas as mulheres também eram guerreiras e não se limitavam aos trabalhos domésticos.
    O sagrado feminino é o (re)conhecimento dessa ancestralidade, seja a mulher como guerreira, como curandeira e parteira, a mulher selvagem (a mulher loba) e bruxa, seja a mulher como doméstica, seja a mulher como esposa e mãe, seja a mulher como Deusa! O sagrado feminino é o reconhecimento da ancestralidade da mulher atual, encontrar dentro dessa mulher moderna que somos hoje, a mulher de toda raça, toda cor, de toda crença que está disposta a voltar-se para si mesma e para a natureza que é a sua raiz.
    Dentro desse conceito é entendido que a mulher ao se conhecer, conhece o mundo em que ela vive e conhece o seu poder. Que mundo é esse? Que poder é esse? Eis que a sabedoria das mulheres antigas, de eras antigas é o conhecimento do que se reconhece por "total", seria o reconhecimento do funcionamento dos seus próprios corpos e do gerar e parir, seria o reconhecimento dos segredos da medicina natural que a mulher precisava dominar, seria o reconhecimento do poder de decisão que nos foi tirado brutalmente com a introdução abusiva de dogmas opressores que conduziram a mulher ao auto espanto, a submissão, ao desconhecimento de si mesma, a negação de sua sexualidade e a colocou em um papel de pureza que pode ou não ser dela se ela assim o desejar, excluindo totalmente o papel que ela já fazia e tinha orgulho de fazer de mulher selvagem!
   O sagrado feminino não é em hipótese alguma a (re)condenação da mulher a submissão, repressão e a negação de sua própria realidade! Muito pelo contrário, é especialmente fazer a mulher selvagem ressurgir, buscando equilíbrio e conhecimento com a sua ancestralidade, seja ela de que cultura for.
   A mulher era dona de si e como ainda é, cabia a ela decidir com quem se casar vieram e disseram a elas que não, somente um homem e teria de ser homem e deveria ser escolhido e ela deveria ser vendida como uma mercadoria. A mulher era dona de seu útero, o aborto assim como hoje era realizado sim! Muitos condenaram e hoje ainda condenam como se isso não pudesse existir, acontece que existiu e ainda existe, porque antes de tudo a mulher é que conta. Disseram a ela que não, o que menos conta é a sua vida, vamos colocar antes de você a vida do outro, que está "hospedado" dentro dela! A mulher era livre para ser, fazer... Disseram a ela que não, que ela deveria viver atrás de um homem porque ela era inferior e suja! E transformaram o sagrado feminino em tabu, em condenação, em Maria mãe de Deus, a Virgem Maria que tem a bênção de parir, mas não a bênção de ser mulher.
   Foi dito a mulher que ela não podia sentir, que ela não podia escolher, que ela não tinha opção e que ela não era livre e dia após dia mulheres reforçam esse mesmo idealismo que mata e condena centenas de mulheres por todo o mundo! Acreditando que o sagrado feminino é a bênção do gerar, e não, o sagrado feminino não é só flores! 
  Nós vivemos em um mundo em que o homem domina a mulher e a controla de todas as formas, é um sistema que se tornou tão natural que passa despercebido. A mulher não tem o espaço que ela tinha, um exemplo disso são desigualdade salarial, desigualdade no entendimento e tratamento aos gêneros, desigualdade nos deveres e direitos... O homem é contra o aborto porque o homem não gera e não vai parir, o grande exemplo dele é a mãe perfeita e digna de respeito que é a imagem da Virgem Maria do cristianismo, uma idealização que não é correta porque é insuficiente, o sagrado feminino corresponde ao poder e a liberdade antes do gerar e parir, ele vem da nossa ancestralidade e de nós mesmas. Antes de sermos mães, esposas... Nós somos mulheres!
   O nosso útero é o maior símbolo da morte e nascimento, de um útero viemos e a partir dele tudo se cria ou tudo se destrói, porque a natureza com toda a sua beleza tem campos floridos e tem primavera, mas a sua soberania está no poder dos furacões, tsunamis, tremores de terras e vulcões! Quando as coisas tendem a estar caóticas, não há ser humano, bichinho fofo que diga não. É sim! 
   O sagrado feminino está além da obrigação, é justamente o oposto disso! Não somos obrigadas a gerar ou querer gerar porque nascemos mulheres, mas em poder escolher o que fazer com autonomia por sermos mulheres. Ser mulher não é uma prisão onde quem manda é a ideia do outro, mas entender que quem manda é você, e não somente a sua genitália, o seu papel social... Simplesmente o que você é em um todo. É ser livre para escolher o que fazer por si mesma, doendo ou não doendo, sofrendo ou não sofrendo, é ter a ousadia de decidir por si, como todas as Deusas fariam, porque se Freyja, Afrodite, Brigit, Ártemis, Hera, Lilith e outras centenas de Deusas quisessem abortar elas abortariam, se todas elas quisessem gerar, elas gerariam, se todas elas quisessem, assim seria, e não haveria Deus nenhum que pudesse dizer o contrário.
    Honrar seu feminino é honrar antes de mais nada a si mesma, tuas escolhas, tuas vontades, teus desejos, teus medos e tristezas... Ouvir as verdades do seu coração sem influência de anos de sofrimento e tortura que estão empregadas na sociedade hipócrita em que estamos inseridas. Sendo que antes de engrandecer a gestação se engrandeça o próprio sangue, o próprio ato sexual, seu próprio clítoris, seu próprio cabelo e pele! Entender que ser mulher não é ser mãe, que essa é somente mais uma entre tantas escolhas, mas é antes de mais nada ser bruxa e ser bruxa é ser livre!



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