O Caminho Sacerdotal

   

   O caminho sacerdotal é um juramente pessoal daquele que se disponibiliza e/ou é escolhido para ser porta voz dos Deuses perante a sociedade em que vive ou dentro do sistema social em que vive, seja uma tribo, um grupo de estudos, um coven formal, um kindred e outras formas de conjunto.

    A forma ou sistema depende muito da prática individual ou grupal de cada pessoa que será iniciada, além é claro do método, já que cada tradição possui um sistema iniciático. Em suma, é uma forma muito pessoal, individual e íntima de entregar a si mesmo(a) à um juramento seja ele formal, por meio tradicional passado à outros por sacerdotes e sacerdotisas, seja por meio informal no caso da iniciação e juramento solitário. A validade de cada sacerdócio faz-se pelo nome, independente de como ocorreu o seu sacerdócio é pelo teu nome que te chamarão e por esse mesmo nome que te conhecerão ou não. O sacerdote ou a sacerdotisa entrega-se publicamente após seus "votos" ou juramento, à estar disponível dentro de sua comunidade para ensinar ou conduzir demais indivíduos, as responsabilidades aumentam e com isso faz-se um nome e portanto um sacerdócio.

    Muitas pessoas passam por cima de seus estudos diários e de cara iniciam-se sem qualquer real conhecimento das responsabilidades acerca desse "nível", muitas vezes sem mesmo ter conhecimento sobre o que é ou qual a forma de se tornar um sacerdote ou uma sacerdotisa a partir da iniciação. Como tudo na vida há de se ter uma determinada ordem e um sistema hierárquico, mesmo que o indivíduo não faça parte de um grupo, há de se ter a primeira responsabilidade essencial para adquirir tal "postura", que é a responsabilidade hierárquica, começa com o respeito à praticantes mais antigos (independente se estão vinculados ao praticando neófito ou não) e por isso os estudos ajudam muito, já que grande parte dos sacerdotes e/ou sacerdotisas costumam ser pessoas com trabalhos públicos — mesmo que muito conhecidos ou não.

     Outra questão essencial é a paciência. Muitos ingressantes (chamados de neófitos) iniciam o estudo da bruxaria e/ou paganismo pelas redes, já que há de se ter muito material que nem sempre é indicado ou que é realmente confiável. Há uma extrema necessidade de se conhecer tudo e a todos quando se ingressa nos estudos porque são coisas muito diferentes do que vemos no cotidiano e tudo parece muito bonito e muito alegre a principio, fazendo com que haja euforia por parte de neófitos que querem engolir todo o conhecimento sem possíveis pausas, o que também é um grande problema. O conhecimento não é adquirido com uma hora de leitura e menos ainda de um dia pro outro, mesmo que leia-se muitas coisas, pareça entender muitos campos e áreas, é preciso ter cautela e paciência, todo cuidado é pouco quando se trata de conhecimento. Nem tudo o que lemos é a verdade absoluta e tudo, absolutamente tudo deve ser contestado antes de ser sugado. Tudo o que ouvimos, lemos e mesmo tudo aquilo que fazemos, precisa ser contestado, passar por uma reflexão e questionamento sempre! Analisar tudo e a todos para se treinar é importantes, já que o conhecimento obtido é somente uma bagagem, nas práticas você faz valer tudo aquilo que você, sendo único e individual, acredita e tem para si mesmo(a).

   É comum vermos, principalmente quem é praticante a muito tempo, pessoas que confundem o iniciar os estudos com a iniciação como um rito. São coisas totalmente distintas e não possuem quaisquer semelhanças entre si. Iniciar ou ingressar na bruxaria é possuir gosto particular pelas práticas e pelas teorias e manter um ritmo determinado por você mesmo(a) para estudar e praticar tudo o que é obtido a partir dos seus estudos. Leva-se tempo! Como eu disse, isso não acontece de um dia para o outro, existem centenas de opiniões diferentes tanto quanto existem centenas de práticas diferentes, diversos campos a serem analisados, estudados e praticados e além de tudo, muitos livros para se ler, então ser cuidadoso(a) com tudo o que se obtém é uma forma de crescimento. Lembrando que o crescimento é necessário e deve ser almejado.

    Um dos motivos de se ter respeito aos mais antigos praticantes é também justamente pelos conselhos que dão em relação ao caminho mágico. Muitos praticantes costumam aconselhar neófitos à passarem pelo período de sombras, estudando e praticando o que foi estudado para que ele/ela mesmo(a) veja por si o que lhe apetece diante de tudo o que leu, ouviu ou viu. Somente dessa forma o neófito pode ter as diversas percepções acerca de tudo o que realmente conhece ou daquilo que ainda desconhece. Como uma opinião pessoal minha costumo ressaltar que é importante que o neófito se enfie nos livros e pratique com cautela tudo o que julgar necessário, desde que ele entenda a número um das lições que é "possuir entendimento sobre o que é para você agora e o que tem para você depois", ou seja, entender ao menos o que é mais básico para ser praticado e testado agora antes de se apressar à praticar coisas mais complexas e que ainda não possui conhecimento, já que um dia quem sabe o neófito(a) pode ter maior entendimento sobre o que para ele era complexo e impraticável. procurar se informar com praticantes mais antigos é uma forma de adquirir essa percepção ou auto-análise.

     Há, dentro da bruxaria e do próprio paganismo, uma discussão infindável a respeito da validade ou invalide da auto iniciação, muito embora a auto dedicação não seja tão discutida ou rebatida pois possui menor "carga" mas que ainda assim não deixa de ser importante para a própria organização dos grupos quanto daquele que pratica individualmente, já que é uma forma de observar o modo como você pratica ou no caso dos grupos, o "treinamento" do indivíduo para conseguir se unir ao grupo; a auto iniciação é discutida porque dentro de um tradicionalismo um sacerdote ou uma sacerdotisa deve iniciar o dedicando, isso vai depender também da forma que é praticada a bruxaria, havendo um ritual específico montado pelo grupo ou repassado para o dedicando, já que após a iniciação o mesmo poderá iniciar outros indivíduos. Essa forma hierárquica é terminantemente antiquada e válida já que é uma tradição que deve ser seguida. Além, é claro, da questão hierárquica dos grupos e organização, onde há respeito aos mais velhos e/ou mais antigos que ensinarão os membros mais jovens que continuamente iniciarão outros jovens, passando a tradição de uma forma "familiar". 

   O caminho sacerdotal é, além de tudo, adquirir e "vestir", por assim dizer, a responsabilidade ancestral de repassar o conhecimento adquirido, então como é possível repassar tal conhecimento sagrado e ancestral sem conhecer nada a respeito dos ancestrais e das vivências ancestrais?

     O sacerdócio gera inúmeras responsabilidades, dentre elas a voz em meio à comunidade em que vive e não somente, você possui a voz dos Deuses na Terra, e é a representação Deles, servindo como guia ou "líder" de outros indivíduos, encaminhando e guiando-os ao conhecimento e prática ancestral para iniciá-los, deixando um legado seu essencialmente divino, já que o sacerdócio é um trabalho que é dado pelos Deuses, o trabalho de organizar tudo, passar conhecimentos corretos e verdadeiros e informar todos os acontecimentos aos Deuses, já que como representação dos mesmos, você está servindo-os de pronta vontade com honra e gratidão.

    É importante entender que o sacerdócio não é uma obrigação e na realidade poucos são escolhidos para tal, há de ter treinamento, mesmo que o indivíduo possua boas percepções e/ou boas ideias, níveis mediúnicos consideráveis e etc., é preciso treinar-se, adquirir responsabilidades e um caminho ao qual o sacerdote ou sacerdotisa se entregue verdadeiramente em ofício da bruxaria e do paganismo com amor, verdade, responsabilidade, honra e gratidão.

     Muito embora a aparência que sacerdotes e sacerdotisas "recebem" são de pessoas elevadas e quase são divinizadas por neófitos, é importante ressaltar que divinizar pessoas é um equívoco. Por mais evoluída e justa ou boa que seja seu sacerdote ou sacerdotisa ele/ela é um treinador, um porta-voz dos Deuses e não propriamente os Deuses. O respeito é totalmente diferente do divinizar. Há de se ter respeito pelo outro por questões hierárquicas ou mesmo que de proximidade e intimidade, mas deve-se ser coerente, são pessoas como nós um pouco mais avançada e por isso deve-se entender que deve-se espelhar nessa pessoa mas não tornar-se ela, por isso é extremamente importante refletir, questionar tudo o que lhe é transferido, não existe uma verdade absoluta, mas sim, muitas verdades que estão longe de ser absolutas!

     Comumente a iniciação possui três graus, a iniciação no caminho sacerdotal (Sacerdócio), o Sumo Sacerdócio e Alto Sacerdócio. Cada um dos graus possui seus próprios aspectos e próprias responsabilidades. A iniciação é a entrada propriamente dita no caminho sacerdotal e dá "início", de fato, ao sacerdócio de primeiro grau, isso quer dizer que o dedicando torna-se um iniciado e já é um sacerdote ou sacerdotisa, dependendo do sexo ao qual o indivíduo é tratado. Esse dedicando sai do período de sombras (como é chamado o ciclo de estudos de preparação para a iniciação) para tornar-se "luz" por livre e espontânea vontade, mesmo que haja grande possibilidade de ser escolhido(a) e a iniciação acontecer mesmo sem o rito e/ou ritual. Muito embora caiba ao indivíduo adquirir por liberdade a nomenclatura de "sacerdote/sacerdotisa" ou não, que é opcional. Porém, não foge das responsabilidades adquiridas na iniciação, que nada mais é do que uma passagem.

     A iniciação de segundo grau ou o Sumo Sacerdócio é um novo juramento dentro do caminho. Funciona como uma parada para repensar o seu sacerdócio e (re)afirmá-lo, o que também é opcional, tanto em relação à nomenclatura usual quanto em relação ao que o indivíduo se propõe, mas como foi citado: não necessariamente foge das responsabilidades adquiridas. O Sumo sacerdócio como reafirmação dos seus primeiros votos também possui um "esquema ritual" de juramento ou "votos" onde o iniciado e/ou sacerdote/sacerdotisa mostra-se contínuo em suas práticas e estudos, já que independente dos graus o bruxo(a) mesmo que iniciado deve ter estudo contínuo de diversas áreas e campos, ele/ela não se livra de nada em relação ao conhecimento, afinal ninguém sabe de tudo.

     A iniciação de terceiro grau ou Alto sacerdócio é o último deles e que mesmo assim não se afasta da busca pelo conhecimento. Cada grau alcança uma nova e maior responsabilidade perante à sociedade, os Deuses e a si mesmo(a). Como é um caminho absolutamente pessoal, cada pessoa dentro da suas práticas, se conhecendo muito bem saberá o momento de cada subida nos degraus e por isso é como disse Sócrates: "Conheça a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses!". Sem o auto conhecimento, sem a auto análise, sem um estudo sério e uma prática não é possível compreender essas passagens e seu próprio progresso, quem dirá conhecer ou reconhecer o progresso alheio. Por isso o sacerdócio não sabe à qualquer um(a)! É um processo longo sim, trabalhoso sim e que exige muito de nós.

    O sacerdócio não é uma "passagem" obrigatória, é importante ressaltar e deixar isso muito bem claro, tanto quanto os graus independem, varia de praticante para praticante e de grupo para grupo, mas é um sistema a ser considerado e muito praticado não somente na Wicca, como também na bruxaria em diversos "ramos".

    O caminho sacerdotal é individual de cada pessoa, não cabendo ao outro validar ou invalidar a sua prática se você não segue uma determinada tradição ou grupo específico, é um juramento pessoal e individual que deve sim ser estudado e analisado, se possível guiado, mas você estará perante aos Deuses para dar inicio à uma nova e interminável jornada, as satisfações que você deve é a Eles e a mais ninguém, quem vai lhe dizer se é válido ou não são Eles e você só vai saber se você se comunicar verdadeiramente com Eles, por isso, antes de qualquer coisa, conheça-os, procure-os, se vincule à Eles e a prova que você terá será perante aos homens e com isso você saberá a veracidade do seu juramento e do seu dispôr. 

   É comum ouvir de muitas pessoas que a auto iniciação, tanto quanto o caminho solitário, é um erro e por vezes um sistema falho. Odeio ter que desmentir alguns ditos "grandes líderes", mas não há nada no mundo além dos Deuses que possam julgar um caminho individual. Se obtive o que obtive no decorrer da minha prática é porque estou devidamente no caminho certo até que se prove o contrário. Como mensagem aos leitores e aos neófitos que por curiosidade, afinidade ou mesmo que por estudo acompanham o blog Mistérios dos Deuses que além de um mega texto que disponibilizo é também um grande conselho de alguém que praticou durante alguns anos e ainda pratica a bruxaria de forma solitária e que não é somente mérito meu, mas principalmente dos Deuses que me encaminham desde que eu me entendo por praticante, como também é um mérito daqueles que sempre estiveram dispostos à me ajudar no que fosse necessário e cabível, claro que nem tudo é possível compreender pelos outros, mas quando se tem um caminho que parte do coração tudo tende a fluir como deve ser.

    Muitas pessoas ao alcançarem esse "status" pensam que tudo acabou, se enganam os que pensam que ser um sacerdote ou ser uma sacerdotisa é estar no topo ordenando ovelhas, pois é somente o início da jornada e na verdade de uma longa jornada. Como o próprio nome sugere "iniciação".

   Deixo a vocês um questionamento que vi no facebook a muito tempo atrás que dizia: "Quem iniciou o primeiro sacerdote/sacerdotisa do mundo?" para reflexão sobre a auto iniciação   ;)