Por Assad Frangieh.
O Yemen tem uma população de 24 milhões e ocupa uma área pouco mais de 500 mil Km². Situado no portal sul do Mar Vermelho, tem uma importância estratégica em qualquer conflito global em razão de sua localização no caminho do Canal de Suez entre a Ásia e a África. Em sua recente história política, tornou-se um terreno fértil para os movimentos islâmicos tanto os salafistas como os súditos da Al-Qaeda & Cia.
Em 2011, surgiram mobilizações locais inspiradas nos movimentos populares da Tunísia, da Líbia e do Egito, lideradas por organizações estudantis e movimentos esquerdistas. Sob a pressão das ruas, o Presidente Ali Abdallah Saleh foi forçado a retirar-se do Governo após ter assinado um acordo mediado e patrocinado pelo Conselho de Cooperação do Golfo no qual lhe foi dado imunidade política e jurídica. Foi residir nos Estados Unidos. Enquanto isso, foi instituída uma assembleia para um diálogo nacional que culminará no início de 2014, numa nova constituinte e eleições gerais. Um momento violento da historia do país que deixou centenas de mortos e milhares de feridos.
Há quatro grandes correntes políticas no Yemen. A Irmandade Muçulmana que está no poder e controla as principais instituições do país como o Exército, os Salafistas que se concentram ao norte próximo da fronteira com a Arábia Saudita, os Haussitas que fazem vizinhança com os salafistas e por fim, um movimento chamado de Al-Hirak sulino pacífico formado por ex-militares dispensados do Exército com a reunificação do país, estimados em 100 mil elementos mantendo aliança com movimentos socialistas e comunistas.
Os Haussitas são xiitas, não da mesma seita do Hezbollah do Líbano, porém sob a tutela do Irã em razão da maioria dos yemenitas pertencerem à seita sunita tutelada pela Arábia Saudita. Com as situações na Síria e no Egito que frearam a Irmandade Muçulmana e desmascararam o apoio da Arábia Saudita aos movimentos salafistas e correntes da Al-Qaeda, a casa de Al-Saud retirou seu apoio ao Governo central da Irmandade Muçulmana ao mesmo molde que o fez no Egito de Mursi e focou sua ajuda aos salafistas do norte cuja escola religiosa fica em Dammage, vilarejo a 40 Kms da fronteira e 20 kms da capital dos Haussitas, a cidade de Saada.
A situação ficou assim: O Qatar e a Turquia continuam apoiando o Governo em razão de pertencerem a Irmandade Muçulmana, a Arábia Saudita ajuda os Salafistas, o Irã tutela os Haussitas e o Harak pede a separação do país como era antes de 1990. Apesar das origens sociais dos problemas e a história de convivência religiosa pacífica entre xiitas e sunitas, o país é suscetível à ingerência externa, principalmente da Arábia Saudita que tem 1.000 Kms de fronteira com o país.
O Yemen, além de se tornar a rota principal de envio de armas aos grupos fundamentalistas na Síria e sediar a escola de formação de radicais islâmicos yemenitas e estrangeiros integrantes da Al-Qaeda e dos Wahabistas, o país tornou-se um tabuleiro de xadrez entre o militarismo, a tradição tribal e as ideologias islâmicas radicais.
Com as derrotas sucessivas da Arábia Saudita na Síria e a aproximação dos Estados Unidos com o Irã, um novo campo de confronto começa ser instigado: o Yemen. Isso não é nada bom.