LEANDRO COLON
DE LONDRES
Primeiro diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), o embaixador do Brasil na França, José Maurício Bustani, disse à Folha que o Prêmio Nobel da Paz recebido pelo órgão mostra que a guerra do Iraque em 2003 poderia ter sido evitada.
Bustani comandou a Opaq entre 1997 e 2002, quando foi destituído sob pressão dos EUA porque defendia, como diretor-geral, a adesão do Iraque à organização. Um ano depois, o Iraque foi invadido pelos EUA sob a acusação de esconder armas químicas, alegação não comprovada depois dos ataques.
Para Bustani, o Prêmio Nobel concedido nesta sexta mostra que a Opaq tem feito desde 1997 um trabalho sério no combate às armas químicas. "Esse Prêmio Nobel da Paz ficou claro que não é pelo trabalho que a organização está começando na Síria, que ainda não pode ser avaliado. É o reconhecimento do motivo pelo qual essa organização está sendo utilizada nesse processo de paz. Ora, porque é uma organização que, apesar de ter 15 anos de existência, se consolidou por ter um trabalho sério, discreto, e eficaz. Era o caminho natural", afirmou à reportagem.
Bruno Stuckert - 11.mar.2003/Folhapress | ||
José Maurício Bustani, primeiro diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) |
Para ele, o reconhecimento de hoje mostra a importância da Opaq, que, na sua avaliação, poderia ter impedido a guerra no Iraque se não fosse a ação política dos EUA para destitui-lo. "Se os americanos tivessem deixado o processo continuar, não teria havido necessidade de invadir o Iraque porque veríamos no processo de inspeção que não havia armas, teria evitado uma guerra", disse.
"A minha grande frustração é que não consegui impedir aquela inútil invasão que vimos no Iraque, não havia armas e o país está numa situação precária", disse.
Bustani contou que se sente "orgulhoso" em ter dirigido uma entidade que hoje levou o Nobel da Paz. "Fui o primeiro diretor-geral e tenho uma certa responsabilidade na maneira pela qual criei uma determinada cultura que se manteve. A Opaq deve ser um paradigma para demais organizações internacionais. É uma aposta numa convenção que é não discriminatória, que se aplica da mesma maneira a todos os países, não discrimina nenhum país. Todo mundo tem que ser tratado igual e ser tratado da mesma maneira", ressaltou.
Alexandre Campbell - 21.mar.2002/Folhapress | ||
Manifestação liderada pelo então deputado Carlos Minc, em 2002, contra o pedido de demissão de Bustani da direção da Opaq |