por M K Bhadrakumar [*] O posicionamento de pára-quedistas dos EUA na Ucrânia , juntamente com contingentes do Reino Unido e Canadá, só pode ser visto como o princípio de uma expansão gradual para além dos objectivos ("Mission Creep"). A missão afirma o objectivo de treinar guardas nacionais ucranianos, mas por outro lado tais missões levam invariavelmente a compromissos militares mais profundos. Neste caso, o começo de fornecimentos de armas americanas à Ucrânia agora parece inevitável uma vez que os soldados ucranianos foram treinados para usá-las. O Ministério Russo do Exterior reagiu fortemente, exprimindo "alarme" e advertindo que este passo dos EUA mina os acordos de Minsk e está "comprometido (fraught) com mais derramamento de sangue na vizinha da Rússia". A declaração implica também que interesses russos estão envolvidos na medida em que os instrutores estrangeiros estarão a treinar tropas "em métodos mais eficientes de matar falantes de russo na Ucrânia". A União Europeia e a NATO estão em estado de alerta a observar, mas estariam a compreender que os EUA e dois dos seus mais estreitos aliados no espaço euro-atlântico tivessem mais uma vez de intervir directamente num conflito militar na Europa após o intervalo de mais de uma década e meia desde o término da Guerra do Kosovo em 1999. Em suma, o conflito na Ucrânia está a entrar numa nova fase. Assim, a observação de ontem do ministro alemão dos Estrangeiros, Walter Steinmeier, acautelando a Rússia contra qualquer movimento no sentido de reconhecer as auto-proclamadas repúblicas de Donetesk e Lugansk na região oriental ucraniana do Donbass poderia ser entendido como uma olhadela ao futuro de um homem de estado experiente. Um lobby hard-line nos EUA encabeçado por figuras eminentes no circuito estratégico argumentou desde o princípio que armar a Ucrânia elevará o custo da guerra para Moscovo e obrigará o presidente russo Vladimir Putin a compromisso. (Ler o relatório "Preserving Ukraine's Independence, Resisting Russian Aggression" preparado em Fevereiro por uma força tarefa do Atlantic Council, do Brookings e do Chicago Council.) Na verdade, a decisão de Putin na semana passada de fornecer mísseis S-300 ao Irão teria mais uma vez fortalecido este lobby em Washington. A opinião especializada de um analista militar no influente Council of Foreign Relations é a seguinte:
Sem dúvida, Moscovo aplicou um duro golpe à capacidade dos EUA para negociar com o Irão a partir de uma posição de força. Embora a Ucrânia e a questão nuclear do Irão não possam ser comparadas, dificilmente será uma surpresa se os hardliners em Washington vierem a argumentar que a administração Obama deve pagar na mesma moeda na Ucrânia. Então, porque Obama minimizou a questão do S-300 , deixando os israelenses de "queixo caído"? É a qualidade de Obama, estúpido! Ele está a jogar o jogo longo e espera virar a mesa sobre o seu homólogo russo num momento propício em futuro próximo na Ucrânia. Na minha opinião, portanto, Washington não estará com pressa para explorar a mais recente oferta do Presidente Putin de "trabalhar junto" com os EUA . Moscovo provavelmente considera que embora o equilíbrio de poder na ordem bipolar mundial característica da era da Guerra fria já não exista hoje, ainda há um "contrapeso" aos EUA, graças a uma ampla secção da comunidade internacional, especialmente as potências emergentes, as quais não estão alinhadas com Washington, que por sua vez trabalha a favor da Rússia na sua confrontação com o Ocidente ( Moscow Times ). Contudo, na realidade isto pode ou não ser necessariamente o caso. As potências emergentes estão preocupadas com suas próprias ambições, estão a lutar para estarem à altura das suas próprias prioridades nacionais. (a China, comprovadamente, podia ser uma excepção, que não pode permanecer indiferente se chegar o tempo do esmagamento.) Entretanto, nem a Rússia nem os EUA estão numa disposição de recuo à confrontação. E, por falar em Obama, ele não pode permitir-se ser visto como a vacilar (blinking) primeiro uma vez iniciada a campanha para a eleição presidencial. Para todas as finalidades práticas, portanto, as duas grandes potências estão a tropeçar para a guerra. Leiam um excelente tour d'horizon feito por dois eminentes pensadores estratégicos na América que radica em estudos da Rússia sobre a dinâmica EUA-Rússia na Ucrânia não se deter diante do sinal amarelo num cruzamento que é altamente propenso a acidentes ( aqui ). 21/Abril/2015 [*] Diplomata indiano, analista político. O original encontra-se em blogs.rediff.com/... Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |