Análise: Crow x Raven

— Game Of Thrones

     O corvo é uma ave muito apreciada, já que para os antigos era tida como uma "ave mensageira". Em muitas civilizações encontrou-se lendas e mitos a respeito desses pássaros negros, em algumas culturas a ave está sempre ligada a Deus e sempre está em seu papel de mensageiro, já que sobrevoa os céus observando tudo o que ocorre abaixo. Para os nórdicos o corvo também possuía essa representação, tanto que os mensageiros do Deus Odin eram dois corvos (pensamento e memória) e eles eram "encarregados" de trazer informações dos nove mundos para Odin. Para o xamanismo norte americano, o pássaro também possuía esse contato com o Superior e representava o xamã, que tinha o papel de constatar espíritos e Deuses, além é claro de poder "transformar-se" em animais, principalmente a ave. Por muito tempo essas aves perderam seu espaço por serem consideradas aves de mau presságio mau agouro assim como o gato preto, justamente pela cor preta, que para muitos era sinal do mal. Corvos e pombos eram muito usados para a distribuição de cartas e mensagens, ora carregados em suas patas ou em bicos, e geralmente eram treinados para esse serviço, daí originou-se alguns ditados como: "Asas escuras, palavras escuras", "Notícia ruim chega mais rápido", "Isso está o bico do corvo" entre outras, que faziam menção à cor negra como mau presságio ou agouro, cartas e notícias que chegavam mais rápido pelas aves do que pelos navios e outros e como a ave costuma "afiar" o bico para que não cresça demais e atrapalhe sua alimentação, possuem um bico danificado... Para bruxas e bruxas, a cor preta sempre representou o oculto e o místico, tudo o que é "desconhecido" e não traz qualquer aspecto de malévolo ou ruim, como era conhecido pelas religiões monoteístas que trazem contextos bem diferentes e distintos do paganismo e das antigas religiões politeístas. 

     Muitas pessoas não sabem a diferença entre "raven" e "crow", eu também não o sabia. Em uma conversa com amigos também pagãos descobri que há diferença entre essas duas aves que passam realmente despercebidas sem um olhar atento aos pequenos e ricos detalhes de ambas as aves. A palavra "crow" (corvo) foi dada à essa ave pelo som que ela faz, uma espécie com "cras" curto e rítmico como um cacarejar, em latim a palavra significa "amanhã", possui geralmente um bico pequeno, reto e pontudo, além é claro do seu tamanho que é menor. Possuem as penas menores e cinco penas nas pontas das asas e costuma bater as asas constantemente quando em voo e são encontrados em toda a América do norte. A palavra "raven" significava "gralha-negra", já que o som que reproduz é um "croak" mais profundo, mas é também conhecida popularmente como corvo por conta da semelhança. Além de serem maiores que os corvos comuns, possuem as penas mais eriçadas e pequenos centímetros maiores, conhecidos devido a isso pelo "papo" d'baixo do bico (amontoado de pequenas penas bagunçadas), em comparação com o corvo comum, a gralha-negra possuí somente quatro penas na ponta das asas, tendo também o rabicho pontiagudo e é mais acrobático em seus voos já que consegue planar facilmente. O bico é levemente curvado, diferente do corvo comum que possui um bico reto e pontudo. É encontrada no oeste e nordeste e principalmente nas montanhas.

  

     O corvo geralmente é associado à bruxaria, magia, esperança e sabedoria, desse modo é possível encontrá-los em filmes de terror, contos de fadas e outros, trazendo um presságio ou como um sinal de má sorte. Alimentam-se de animais mortos e outros restos orgânicos, frutos, sementes e invertebrados. Vivem em bando e possuem uma estrutura hierárquica bem definida. Possuem também casais monogâmicos, tendo um parceiro para a vida toda. Antigos acreditavam que o corvo era um animal que podia prever o futuro, revelar destinos e ter presságios ou mandar sinais. O corvo é uma ave dotada de inteligência, usa diversos métodos para se alimentar. Acerca disso, é possível entender que o corvo é um "sinalizador" e entender a crença envolta diante deste animal. Acreditava-se que ele era portador de grandes segredos e mistérios.  Também integra poemas e poesias, estórias e escritores por todo o mundo, justamente pelo misticismo e pelo teor oculto e sobrenatural. A palavra crow e raven também são usadas como analogias em diversas estórias e contos: "O cabelo da Branca de Neve era tão negro como o ébano da janela".

   "O Corvo" um poema de Allan Poe tendo uma esfera sobrenatural e bastante discutido e contestado no meio literário romancista por isso. É um de seus mais famosos poemas e tornou-se um clássico.

[...] Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,

Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.

"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.

Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."

Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.

"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,

Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.

Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,

Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,

Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,

Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura

Com o solene decoro de seus ares rituais.

"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,

Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!

Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."

Disse o corvo, "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,

Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;

E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira

Que queria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,

Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,

Com aquele "Nunca mais".

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso

Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.

"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te

O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,

O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"

Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!

Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,

A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,

A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem atrais

Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!

Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!

Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.

Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida

Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,

Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"

Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!

Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!

Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!

Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!

Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"

Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda

No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.

Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,

E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,

Libertar-se-á... nunca mais! [...]

O Corvo, Edgar Allan Poe.

Fonte: http://www.insite.com.br

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